quarta-feira, 26 de maio de 2010

Fitoterápicos americanos têm metais pesados

Por The New York Times
26 de maio de 2010

Praticamente todos os suplementos dietéticos fitoterápicos testados por uma investigação do Congresso dos Estados Unidos contêm grandes quantidades de chumbo e outros elementos nocivos e alguns vendedores desses produtos fazem propaganda ilegal de seus efeitos, entre os quais a cura do câncer e outras doenças. Os níveis de metais pesados – incluindo mercúrio, cádmio e arsênico – não excedem limites considerados perigosos, de acordo com os pesquisadores. No entanto, 16 de 40 suplementos testados contêm resíduos de pesticidas que ultrapassam os limites legais. Em alguns casos, o governo não fixou o limite dos agrotóxicos por falta de pesquisas científicas.
Os investigadores identificaram pelo menos nove produtos que aparentemente fazem propaganda ilegal, incluindo um, com ginkgo biloba na fórmula, cujo rótulo sugere seu uso para tratamento de Alzheimer. Outro, com ginseng, é anunciado como tratamento para prevenir diabetes e câncer. Eles também encontraram um vendedor de uma loja especializada anunciando um suplemento à base de alho como substituto de medicamentos para hipertensão. Qualquer produto que afirme tratar, curar, prevenir ou mitigar doenças é considerado medicamento e precisa se submeter a rigorosos testes regulatórios.
O relatório, preparado pelo Escritório de Responsabilidade Governamental, foi entregue ao The New York Times e será anunciado numa audiência do Senado nesta quarta-feira. A divulgação acontece duas semanas antes do início das discussões, no Senado americano, sobre um projeto de lei de segurança alimentar que, espera-se, aumente consideravelmente a autoridade do governo sobre os fabricantes.
Mas é incerto o quão rigorosa será a lei, objeto de pressões ferozes da indústria alimentícia. Para funcionários do Congresso familiarizados com o projeto, é pouco provável que a lei tenha dispositivos contra os fabricantes de suplementos. Benjamin Sharfstein, da Food and Drug Administration (FDA, a agência federal responsável pelo controle de alimentos e remédios) disse que não estava preocupado com a segurança dos suplementos revelada pelas investigações. Mas afirmou que a agência anunciou recentemente a retirada do mercado do produto Vita Breath, um suplemento dietético que contém níveis perigosos de chumbo.
Steve Mister, presidente do Conselho para a Nutrição Responsável, associação que reúne representantes da indústria de suplementos dietéticos, afirmou que não estava surpreso com a descoberta de traços de metais pesados em suplementos fitoterápicos, porque eles são encontrados rotineiramente no solo e em plantas. “Não acredito que isso deva preocupar os consumidores”, disse Mister. O senador Herb Kohl, que presidirá a audiência desta quarta-feira, afirmou que, embora a supervisão sobre alimentos tenha melhorado nos últimos anos, “a FDA precisa de autoridade e ferramentas para garantir que os complementos dietéticos são seguros e efetivos, tal como são amplamente percebidos pelos americanos que os usam”.
Entre as testemunhas da audiência estará Tod Cooperman, presidente da ConsumerLab.com, uma empresa que testou 2 mil complementos dietéticos produzidos por mais de 300 fabricantes e descobriu que um em cada quatro tem problemas de qualidade. Segundo o testemunho escrito de Cooperman, os problemas mais comuns são a falta da quantidade adequada dos ingredientes e produtos contaminados por metais pesados. Travis Tygart, executivo chefe da Agência Americana Anti-Doping, escreveu uma carta ao comitê afirmando que alguns atletas foram proibidos de participar de competições internacionais porque usam suplementos que contêm esteróides que não constam nos rótulos dos produtos. Existem milhares de suplementos que contem esteróides e outros ingredientes prejudiciais, segundo ele. “A FDA trabalha na criação de um marco regulatório para permitir um controle eficaz da comercialização desses produtos”, escreveu.
Metade da população adulta americana toma suplementos vitamínicos regularmente, e cerca de um quarto faz uso de suplementos fitoterápicos. As vendas anuais chegam a 25 bilhões de dólares e a popularidade deles cresce com o aumento da oferta de suplementos importados, que contêm drogas ilegais. Em 1994, o Congresso aprovou uma lei que permitia aos fabricantes vender suplementos sem a aprovação da FDA para seus ingredientes ou de suas propriedades. Mas organizações científicas advertiram em repetidas ocasiões, desde então, que a FDA deveria fazer mais para garantir que os complementos são seguros e que as alegações sobre ganhos para a saúde são justificáveis.
Nos últimos anos, a maioria dos fornecedores de suplementos está baseada no exterior, principalmente na China. De fato, praticamente todas as vitaminas C e muitos outros suplementos consumidos nos Estados Unidos têm ingredientes obtidos de plantas chinesas, que quase nunca são inspecionados pela FDA. Por lei, a agência não é obrigada a analisar plantas estrangeiras, tem pouco dinheiro para fazer isso e não vê os fitoterápicos como especialmente perigosos.
Mister afirma que os vendedores de suplementos testam os ingrediente antes, mas admite que tais testes talvez não garantam a qualidade dos produtos. Ele pediu ao Congresso que garanta à FDA mais dinheiro para inspecionar plantas que servem de base a suplementos nacionais e importados. “Creio que teremos mais e mais inspeções”, disse Mister. Ele afirmou que poucas companhias fazem propaganda ilegal dos suplementos, mas que a indústria está tentando coibir tais práticas. “De vez em quando veja comerciais tarde da noite que fazem meu sangue ferver”, disse.
Sharfstein afirmou que a FDA intensificou as medidas contra suplementos que prometem substituir drogas legais, como o Viagra. E que a agência vem tomando medidas contra fabricantes que anunciam qualidades medicinais em seus produtos. “Não queremos que as pessoas pensem que estão se tratando de uma doença com algo que não tem condições de fazer isso”, disse.
O projeto de lei sobre segurança alimentar deve ser discutido no mês que vem pelo Senado. É provável que os fabricantes sejam obrigados a registrar seus produtos anualmente no FDA e que a agência possa retirar produtos considerados perigosos do mercado.

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